Enquanto muitos arquitetos pensam em janelas para iluminar os espaços internos, Norman Foster fica intrigado com a luz natural vinda de cima. O famoso arquiteto britânico sempre admirou a obra de Louis Kahn e Alvar Aalto pela forma como lidavam com a luz natural - especialmente no que diz respeito à cobertura. Em particular, grandes edifícios públicos beneficiam-se desta estratégia para criar espaços agradáveis. Portanto, Foster considera a luz natural indispensável quando desenvolve megaestruturas para aeroportos ou arranha-céus corporativos. Mas a luz natural que vem de cima é muito mais do que uma dimensão estética, observa Foster: "Além das qualidades humanísticas e poéticas da luz natural, há também implicações energéticas".
Na época em que Foster projetou o aeroporto de Stansted, os elementos arquitetônicos típicos da tipologia incluíam dutos no teto, forros suspensos, unidades de ar-condicionado no teto e iluminação fluorescente. Em suma, muita redundância estrutural e de manutenção e muito pouca luz natural. No entanto, o telhado de Stansted é singular. "Seu design é dedicado à luz natural", explica Foster "com uma proporção de superfícies envidraçadas para deixar entrar a luz do sol e 'refletores de luz' no interior que a refletem de forma escultural no teto. À noite, a luz artificial reproduz o mesmo efeito."
Para conseguir isso, Foster virou de cabeça para baixo o modelo de terminal convencional e colocou todo o equipamento pesado sob o saguão principal. "Conseguimos abrir a cobertura para os raios e a luz do sol. O resultado não se resumiu apenas a uma grande economia de energia, mas também muito mais experiência espacial poética". Ele repetiu essa abordagem em projetos posteriores, incluindo os de Hong Kong e Pequim, onde a iluminação zenital desempenhou um papel integral novamente.
Inspirado pelas imagens do Skylab da NASA, com painéis para coleta de energia, Foster deu um passo técnico adiante em seu projeto high-tech do Hong Kong and Shanghai Bank. A fim de coletar mais luz solar, Foster desenvolveu um esquema em que o sol incide na base do átrio e é refletido em espelhos do edifício alto e profundo.Os espelhos refletem a luz natural através do piso de vidro translúcido da praça até o chão. Quando a luz natural não está mais disponível, ele inverte o conceito: "À noite, a situação é revertida pela luz que brilha de baixo, de modo que o próprio chão da praça se torna cristalino e semelhante a uma joia". Trazer a luz natural de cima para edifícios de escritórios não é uma novidade, como demonstra o edifício Willis Faber em Ipswich, de 1975. Para projetos de outras sedes, posteriormente, Foster concebeu principalmente átrios sem um grande sistema dinâmico de iluminação natural,como o Commerzbank em Frankfurt.
O arquiteto britânico chegou até a explorar subsolos em busca de oportunidades para trazer a luz do dia tanto quanto possível para melhorar a orientação e criar uma atmosfera natural.As entradas envidraçadas do Metrô de Bilbao e da Estação de Metrô de Canary Wharf trazem a luz natural para o espaço interno. Seu conceito começa no nível da rua, com escadas rolantes de vidro que descem. Os poços de luz natural indicam aos passageiros onde é a saída após descerem do trem e reduzem a necessidade de sinalização para orientação.
Embora o antigo Reichstag em Berlim já apresentasse uma cúpula que permitia a entrada de iluminação natural para a câmara embaixo, o redesenho da cúpula de Foster cumpre mais funções. Oferecer uma passarela em espiral para o público era apenas um dos aspectos. Espelhos adicionais foram ajustados individualmente para refletir a luz do horizonte no espaço abaixo, gerando uma iluminação geral suave.Mas com tanta luz, o controle de brilho excessivo era uma questão crucial. O grande escudo solar na cúpula oferece o conforto visual necessário para os políticos e para a transmissão televisiva. O grande elemento segue a trajetória do sol, mas bloqueia a luz solar direta e forte. À noite, os espelhos da cúpula são usados na direção oposta para criar um farol de luz como uma sinalização urbana. Além disso, um anel de pontos de luz no teto da câmara direciona a luz natural para cima oferecendo uma infraestrutura totalmente controlável para todas as funções e horários.
O que é fascinante sobre a diferença entre os projetos iniciais e mais recentes de Foster é que agora é possível quantificar aspectos cognitivos que eram anteriormente mais qualitativos. A resposta fisiológica a ambientes visualmente estimulantes com luz natural pode ser medida, com o aumento no padrão do fluxo sanguíneo que alcançam zonas distintas do cérebro.A capacidade de comprovar aumentos de desempenho a longo prazo permitiu que o escritório justificasse custos de investimento mais elevados para uma ampla gama de projetos de alta qualidade.Enxergar a iluminação de um ativo qualitativo para um recurso quantificável mudou drasticamente a forma como a empresa projeta. Como observa Foster:"Essa dimensão humanista, poética e espiritual é para mim completamente ligada à tecnologia de como o edifício eventualmente 'respira' e comunga com a natureza".
Para mais informações:
Norman Foster, David Jenkins: Norman Foster - Talking and Writing. Norman Foster Foundation, Madrid. 2017
Light Matters, uma coluna sobre luz e espaço, é escrita pelo Dr. Thomas Schielke. Baseado na Alemanha, ele é fascinado pela iluminação na arquitetura e trabalha como editor para a empresa de iluminação ERCO. Ele publicou vários artigos e foi co-autor dos livros “Light Perspectives” e “SuperLux”. Para mais informações, acesse www.erco.com, www.arclighting.de ou siga-o em @arcspaces.